Vocação é um termo derivado do verbo no latim vocare que significa “chamar”. Antigamente estava associado principalmente às questões religiosas ou mais especificamente ao sacerdócio, sendo interpretado como o “Chamado de Deus”. Com o passar do tempo esse “chamado” foi sendo associado ao talento natural de cada um, ou seja, “a que fomos chamados?” “como podemos contribuir para a vida em sociedade?” – o que explica o uso do complemento “profissional”.
A partir disso, entendemos como vocação profissional um conjunto de características, aptidões e interesses pessoais que facilitam o exercício de uma determinada profissão, ou função social.
Hoje em dia temos um leque muito grande de profissões, sendo que muitas delas se utilizam de várias características pessoais em comum.
A melhor forma de descobrir a profissão que combina com nossa singularidade, é em primeiro lugar conhecer-nos com certa profundidade, aceitando-nos de maneira integral, com tudo que julgamos positivo e negativo de nós mesmos. Nessa fase é importante nos atentarmos para as características mais marcantes da nossa personalidade, aquelas que aparecem principalmente no ambiente familiar, onde somos muito mais autênticos do que no ambiente social.
Outra sondagem que deve ser valorizada é a dos nossos interesses naturais. Quais áreas ou assuntos nos interessam instantaneamente, quais disciplinas que nos foram apresentadas durante nosso período escolar que nos causavam gratificações quando foram sendo apresentadas, ou ainda, quais leituras nos causam prazer, como usamos nosso tempo de descanso, ou quais tipos de assunto provocam nosso desejo de trocar informações.
Normalmente a vocação natural é desvalorizada por aquele que a possui, sendo identificada principalmente por aqueles que o observam. É muito comum, por exemplo, vermos pessoas que desenham com traços precisos enquanto estão conversando, sem a menor dedicação à tarefa, causando admiração no seu observador. Se aquela facilidade for pontuada, veremos que essa pessoa acha aquilo muito natural, e de fato é. Porém não para todas as pessoas, mas para aquela em especial.
Os modelos ou pessoas da nossa admiração também entram nessa equação. Muitas vezes nossa área de interesse está relacionada às pessoas que despertaram nossa admiração e respeito, tornando-se uma referência para nossas escolhas. Isso também deve ser levado em conta, já que não deixa de ser uma identificação ou motivação.
Todas essas observações vão fornecendo pistas, nos orientando para qual caminho seguir.
Durante esse processo, muitas possibilidades podem surgir. Dessa feita, deve-se investir um tempo em conhecer profissionais que já atuam na área, examinando suas atividades, seus desafios, sacrifícios e gratificações (pessoais e financeiras), e comparando-as com as nossas expectativas pessoais.
Um fator de certa importância e bastante relacionado ao momento atual é que não há necessidade de se escolher uma profissão que dure para sempre. A carreira profissional é um empreendimento que vamos desenvolvendo durante toda a vida. Na medida em que alcançamos uma determinada competência, aquilo se torna pré-requisito para novos desafios e assim vamos cumprindo nossa “razão social de ser”.
Existem características que podem demonstrar qual profissão combina com o perfil de cada pessoa, e isso é algo muito simples de se observar. Não é preciso ser profissional da área, mas ter interesse no comportamento humano.
Todos nós temos uma “representação social” de cada profissão, ou seja, esperamos encontrar um determinado comportamento que “combina” com aquele que leva o seu título. Costumo usar como exemplo um médico, que independente de estar no seu horário de trabalho, carrega consigo o dever de auxiliar a salvar vidas humanas. Ninguém é capaz de perdoá-lo se acontecer dele se negar a atender alguém que corre perigo de morte, só porque o seu horário de expediente acabou. Isso vale também para bombeiros, policiais, advogados, psicólogos, e, tantos outros profissionais.
No decorrer da vida vamos construindo algumas expectativas em relação a cada tipo de profissional. É como se fosse um padrão de qualidade associado a cada tipo de serviço que uma pessoa é capaz de oferecer. Sempre que nossas expectativas são atendidas dizemos que esse é um profissional competente, quando acontece o inverso ficamos nos perguntando o que essa pessoa está fazendo naquele posto de trabalho.
Não existe um limite de idade para que a pessoa saiba o que gosta de fazer, já que o amadurecimento vai oferecendo um maior conhecimento de si mesmo.
Desde crianças somos convidados a conhecer o mundo e a maneira como devemos transitar nele. Grande parte do nosso aprendizado resume-se a regras sociais, crenças e valores familiares, observação da história e da cultura do lugar onde vivemos, etc. Pouco valor é atribuído para o nosso conhecimento interior, para nossas gratificações e desconfortos pessoais. Certamente quanto mais cedo nos voltarmos para dentro de nós mesmos, mais rápido descobriremos aquilo que nos faz felizes e realizados.
O prazer no trabalho é um dos grandes benefícios quando podemos escolher uma atividade que valorize nossos talentos naturais. Mas eu não diria que existe somente uma profissão certa para cada pessoa. Aliás, as profissões de maneira geral estão em frequente transformação, muitas são extintas todos os dias, considerando as mudanças e exigências do mercado.
Felizmente as capacitações para o mercado de trabalho também evoluíram, oferecendo uma gama de possibilidades. Os cursos técnicos nunca foram tão valorizados na hora de se avaliar um currículo, além de terem se tornados acessíveis, tanto em termos econômicos (algumas vezes até gratuitos), como em duração.
Outra mudança interessante nesse sentido foi a criação dos cursos superiores tecnológicos, que são focados em uma área específica do conhecimento. Por serem mais curtos e mais baratos, suavizam a responsabilidade da escolha, e, ainda permitem a possibilidade de se fazer vários cursos durante a carreira. Além disso, ainda oferecem um subsídio muito mais eficiente na prática de uma profissão, contribuindo significativamente para a empregabilidade e competência.
Trabalhar naquilo que se gosta não é regra, muito pelo contrário. Porém, gostar daquilo que se faz é uma escolha. Todo trabalho é digno e pode trazer gratificações, dependendo da maneira como é encarado, ainda que seja somente por contribuir para o alcance de nossos objetivos. Quando uma pessoa não é capaz de enxergar o trabalho dessa forma, possivelmente será acometida por mau humor, perda de ânimo, dificuldades de relacionamento, e outros tantos sintomas comportamentais que podem inclusive, evoluir para um quadro de somatização e stress, influenciando também o corpo.
As “Profissões em alta” são aquelas que oferecem o maior número de vagas ou uma remuneração mais significativa, porém não acredito que devam orientar a escolha vocacional de ninguém, a não ser daqueles que consideram que o trabalho é unicamente uma fonte de rendimentos.
É natural que pais preocupados com o futuro profissional de seus filhos, busquem orientá-los nesse sentido, influenciados muitas vezes pela própria trajetória, pela dificuldade de colocação profissional ou baixos salários que vivenciaram. Mas o sucesso profissional está muito mais associado à gratificação individual e a forma como se gerencia os próprios recursos, tanto de aptidão, como de tempo e disciplina, do que propriamente aquilo que está na moda. A dedicação, a busca pela excelência, o monitoramento sistemático das necessidades do mercado, e a flexibilidade para mudanças, são, em minha opinião, uma fórmula assertiva de êxito na carreira.
Psicóloga e Consultora em Negócios e Carreira
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